O tempo da psicanálise: por que não é imediato?
- Daniela V Del Frari

- 7 de jul.
- 2 min de leitura
Vivemos na lógica do agora. Queremos respostas rápidas, soluções diretas, alívio imediato. No entanto, quando se trata do sofrimento psíquico, nem tudo pode ser resolvido com urgência. A psicanálise caminha na contramão da pressa. Ela se propõe a escutar o sujeito em sua singularidade, o que exige tempo, cuidado e sobretudo, paciência com o que ainda não se sabe.
A análise não é um processo de correção, mas de construção. E toda construção subjetiva é complexa, cheia de voltas, repetições, silêncios, resistências. Por isso, quem chega buscando uma solução rápida pode se frustrar. Mas quem permanece encontra algo que vai além do alívio: a possibilidade de se tornar mais autor da própria história.
Por que não dá para apressar o inconsciente
Na psicanálise, não se trata de dar conselhos ou indicar o que a pessoa deve fazer. O analista não opera com fórmulas nem protocolos. O que se busca é criar espaço para que o sujeito fale e, ao falar, possa escutar a si mesmo de um modo novo. Esse processo não segue um roteiro, e tampouco tem um tempo previsível.
O inconsciente não se revela sob comando. Ele se insinua, escapa, retorna em sonhos, lapsos, repetições. Há algo no sujeito que resiste, que se defende, que evita tocar o que dói. Por isso, forçar a interpretação ou correr para o esclarecimento pode interromper aquilo que só se desvela no tempo próprio de cada um.
A lógica do sintoma e o tempo da escuta
O sintoma psíquico — aquilo que incomoda e que leva alguém a buscar análise — não surge por acaso. Ele tem uma função, mesmo que o sujeito não saiba qual. Muitas vezes, é uma tentativa de resposta, uma forma de lidar com conflitos que não encontraram outra via. E para que o sintoma possa se transformar, é preciso entender do que ele está falando.
Isso leva tempo, porque envolve história, repetição, desejo e sofrimento. Leva tempo para que o sujeito possa nomear o que antes era vivido apenas como incômodo ou angústia. E leva tempo também para que ele possa abrir mão do sintoma — que, apesar de doer, é conhecido, familiar, parte da forma como ele se organizou.
O valor do tempo na análise
A demora da análise não é um defeito, é uma condição. Ela permite que o sujeito vá se aproximando, aos poucos, de si mesmo. Que crie laço com a própria fala, que tolere escutar o que antes era impossível, que se responsabilize pelo que repete. É um processo artesanal, que não pode ser apressado sem prejuízo da profundidade.
No mundo da aceleração, a análise propõe uma pausa. E, nessa pausa, algo pode acontecer: não uma resposta pronta, mas o surgimento de uma pergunta nova. Não uma solução mágica, mas um deslocamento. Pequeno, às vezes imperceptível, mas que muda o modo como se vive.
Conclusão
A psicanálise não oferece atalhos. Ela aposta no tempo necessário para que algo do sujeito possa se transformar de forma verdadeira. Não há garantias, nem metas fechadas, mas há escuta, presença e uma aposta no que pode surgir quando o tempo é respeitado.
Talvez, no tempo da análise, o que se ganha não é só alívio — mas a possibilidade de viver de forma menos repetitiva, mais própria, mais livre.



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