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Narcisismo: o espelho da nossa subjetividade

  • Foto do escritor: Daniela V Del Frari
    Daniela V Del Frari
  • 16 de jun.
  • 3 min de leitura

Quando ouvimos falar em narcisismo, muitas vezes o associamos a comportamentos de arrogância, egoísmo ou egocentrismo. Mas a psicanálise nos convida a olhar para o narcisismo de uma maneira diferente, mais complexa e profunda. Ao contrário do que muitos pensam, o narcisismo não se resume a um "amor exagerado por si mesmo". Na verdade, ele tem raízes em processos psíquicos muito mais sutis, que envolvem nossa relação com o outro e com a imagem que temos de nós mesmos.


O narcisismo na psicanálise


Freud foi o primeiro a desenvolver uma teoria detalhada sobre o narcisismo. Para ele, o narcisismo não é um defeito de caráter, mas uma fase essencial do desenvolvimento humano. No início da vida, a criança é essencialmente narcisista, pois a relação com a mãe é toda centrada no cuidado e no espelhamento. O bebê precisa desse reflexo para formar uma identidade, uma imagem de si que se reconhece no olhar do outro.


No entanto, com o tempo, o narcisismo se transforma. À medida que o sujeito amadurece, ele começa a integrar o olhar do outro em sua constituição psíquica, desenvolvendo empatia e capacidade de se relacionar com os outros de forma mais equilibrada. A problemática do narcisismo surge quando essa transformação não acontece adequadamente, resultando em uma fixação na própria imagem ou em uma dificuldade de se abrir para o outro.


Narcisismo e a relação com a família


É interessante pensar no papel que a família desempenha no desenvolvimento do narcisismo. Muitas vezes, os pais, mesmo com as melhores intenções, podem reforçar ou distorcer o processo de formação da identidade do filho. Um dos maiores desafios familiares é equilibrar o cuidado e a expectativa. Quando os pais esperam que os filhos cumpram um papel específico — como ser bem-sucedido, se comportar de determinada maneira ou até atender a desejos não expressos dos pais — eles, muitas vezes, não estão apenas educando, mas também moldando, de maneira inconsciente, a identidade do filho.


Esse processo pode gerar uma dinâmica em que o filho não se vê como ele mesmo, mas como aquilo que os pais desejam. E isso cria uma relação narcisista, em que o sujeito se vê não pelo que é, mas pelo reflexo das expectativas familiares. Essa é uma das armadilhas do narcisismo: o sujeito fica preso à imagem que o outro (nesse caso, os pais) construiu dele, perdendo o contato com a própria subjetividade.


Narcisismo e o amor próprio


O conceito de narcisismo também se cruza com a questão do amor próprio. Quando falamos de amor próprio, estamos nos referindo à capacidade de se reconhecer e se valorizar, sem depender unicamente da aprovação externa. Porém, esse amor próprio pode ser distorcido quando o sujeito busca constantemente a validação dos outros, especialmente dos pais ou figuras de autoridade. Nesse caso, o que ele sente não é um amor autêntico por si mesmo, mas um reflexo do que foi projetado sobre ele.


O verdadeiro desafio do narcisismo é encontrar um equilíbrio entre o reconhecimento do próprio valor e a capacidade de se relacionar com os outros de forma genuína. O narcisismo patológico ocorre quando esse equilíbrio se perde e o sujeito passa a viver em função da própria imagem, sem se permitir a vulnerabilidade das relações humanas autênticas.


Conclusão


O narcisismo não é um traço de personalidade negativo ou uma falha moral. Na verdade, é um aspecto essencial da formação da identidade humana. A psicanálise nos ajuda a entender que o narcisismo, em sua forma saudável, está ligado ao processo de individuação e autoconhecimento. Porém, quando ele se torna fixado ou distorcido, especialmente através das expectativas familiares, pode gerar conflitos internos e dificultar a capacidade de construir relações genuínas.


É importante que o sujeito, em seu processo de análise, possa perceber de que maneira seu narcisismo foi moldado ao longo da vida e como ele pode começar a se desvincular das imagens que os outros projetaram sobre ele. Ao fazer isso, ele tem a oportunidade de descobrir e se conectar com seu verdadeiro "eu", sem a necessidade de ser sempre refletido no olhar do outro.

 
 
 

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